sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O PROJETO DE PESQUISA NA ÁREA EDUCACIONAL

Realizar a tarefa da pesquisa educacional é, na atualidade, desbruçar-se sobre as práticas pedagógicas, por meio de um pensar livre e autônomo que se constitui no instrumento primeiro da formação do espírito.
Buscar entender a filosofia que constituiu e institucionalizou o ensino, historicamente, pode trazer alguma contribuição para se pensar a questão educacional hoje. Trabalhar visando a crítica o pensamento dominante, aceitando a diversidade e avaliando a parcela e o todo, pode constituir o horizonte para a importância da pesquisa em sua reflexão-intervenção presentes em nosso processo de formação educacional.
A necessidade de nos mantermos atualizados e preparados para enfrentar as novas situações que o mundo coloca continuamente, em que a velocidade e a quantidade de informações exigem de nós capacidade de seleção, reflexão e aprofundamento.
Uma pesquisa é um processo de construção do conhecimento que tem como metas principais gerar novos conhecimentos e/ou contribuir ou colaborar para algum conhecimento pré-existente. É basicamente um processo de aprendizagem tanto do indivíduo que a realiza quanto da sociedade na qual esta se desenvolve. Como atividade regular pode ser definida como um conjunto de atividades orientadas, planejada pela busca do conhecimento.
Pesquisa é uma palavra de origem espanhola, herdada do latim do verbo perquiro, que significa procurar, buscar com cuidado, procurar por parte, indagar bem, informar-se, inquirir, perguntar, aprofundar na busca. Daí percebe-se que o significado desse verbo insiste na idéia de uma busca feita com cuidado e profundidade.

O QUE É O PROJETO DE PESQUISA
Constitui-se do plano de trabalho da pesquisa que tem por finalidade definir os rumos que o investigador deve tomar.
Deve responder às perguntas:
• O quê?
• Por quê?
• Para quê?
• Para quem?
• Onde?
• Quando?
• Como?
• Com quê?
Pode-se dizer, no entanto, que o Projeto de Pesquisa constitui o ordenamento daquilo que o pesquisador pretende realizar. É um plano de roteiro organizado que deve ser enquadrado no tempo x espaço.
LEMBRE-SE: “não inicie uma pesquisa sem um plano de ação, um roteiro dos cainhos que acredita percorrer para chegar aos seus objetivos”.

ESTRUTURA
Todo projeto é formado de partes:
1. Tema – é o assunto a ser pesquisado, que procura responder o que investigar, para chegar ao tema específico ou título do projeto. Na escolha do tema, deve-se levar em consideração a quantidade de atividades que se tem de cumprir para executar o trabalho medi-la com o tempo e espaço. A significação do tema escolhido, sua novidade, sua oportunidade e seus valores acadêmicos e sociais devem ter uma importância qualquer para as pessoas ou para a sociedade em geral. O material de consulta e dados necessários na escolha do tema deve possuir fontes secundárias para consulta, evitando, assim, a busca de fontes primárias que necessitam de um tempo maior para a realização do trabalho, prejudicando o tempo institucional previsto anteriormente.
2. Revisão de literatura – é a literatura existente sobre o tema específico escolhido para analisar a viabilidade ou não da pesquisa. O levantamento da revisão da literatura traduz-se como a localização e obtenção de documentos para avaliar a disponibilidade de material que subsidiará o tema do trabalho de pesquisa. Este levantamento é realizado junto às bibliotecas ou serviços de informações existentes. Nesta fase esteja preparado para copiar os documentos utilizando fotocópias, fotografias ou outro meio qualquer. Separe-os de acordo com os critérios de sua pesquisa
3. Problema – responde a pergunta o quê? Trata-se do assunto a ser pesquisado/investigado e extraído do tema em forma de pergunta. É a mola propulsora de todo o trabalho de pesquisa. Depois de definido o tema, levanta-se uma questão para ser respondida através de uma hipótese (suposição), que será confirmada ou negada através do trabalho de pesquisa. O problema deve ser criado pelo próprio autor e relacionado ao tema escolhido. Não existem regras para se criar um problema, mas alguns autores sugerem que ele seja expresso em forma de pergunta.
4. Justificativas – responde o por quê da escolha do problema a ser resolvido, que razões levaram o pesquisador ao assunto. Trata-se do convencimento de que o trabalho de pesquisa é fundamental de ser efetivado. O tema escolhido e a hipótese a ser comprovada devem ter importância para a sociedade ou para alguns indivíduos. A justificativa exalta a importância do tema a ser estudado, ou justifica a necessidade imperiosa e se propor tal empreendimento, por isso, deve-se tomar os devidos cuidados para não tentar justificar a hipótese, ou seja, tentar responder ou concluir o que vai ser buscado no trabalho de pesquisa.
5. Objetivos - Para quê? Metas ou finalidades a serem alcançadas, o que se pretende atingir para a resolução do problema através da pesquisa. Um macete para se definir os objetivos é colocá-los começando com o verbo no infinitivo.
6. Procedimentos Metodológicos – responde ao como será realizada a pesquisa, com quem, para quê, onde. É a explicação minuciosa, detalhada, rigorosa e exata de toda aço desenvolvida no método do trabalho de pesquisa. Explica o tipo de pesquisa, o instrumental utilizado (questionário, entrevista), o tempo previsto, a forma de tabulação e tratamento dos dados, enfim tudo aquilo que se utilizou durante o trabalho de pesquisa.
7. Cronograma das Atividades – é a previsão de tempo que será gasto na realização do trabalho de acordo com as atividades a serem cumpridas. As atividades e os períodos serão definidos a partir das características e dos critérios determinados pelo autor do trabalho. Os períodos podem estar divididos em: semanas, quinzenas, meses, bimestres, trimestres, etc.
8. Recursos – os recursos podem estar divididos em Material Permanente, Material de consumo e Pessoal, sendo que esta divisão vai ser definida a partir dos critérios de organização de cada um ou exigências da instituição onde está sendo apresentado o projeto.
9. Avaliação: Construção de um olhar global sobre a criança a fim de evitar um ponto de vista unilateral sobre cada aluno, é fundamental
buscar novos olhares: - Recolhendo outras visões sobre ela.
- Contrastando a visão dos responsáveis com o que se observa na escola/ creche. - Conhecendo o que os responsáveis pensam sobre o que a escola/creche diz. - Refletindo sobre o que a família pensa em relação aos motivos de a criança comportar-se de determinada forma na escola/creche. - Ouvindo a família sobre como pensa que poderia auxiliar a criança a avançar em seu desenvolvimento.
Sugestões: Hábitos e Atitudes: Está sempre atento na sala de aula
Relaciona-se bem com os colegas e professores. Ouve com atenção e espera a sua vez de falar. Faz a tarefa com capricho e é pontual na sua entrega. Porta-se no momento da merenda e higiene. Colabora com a limpeza da sala de aula. É cuidadoso com o material escolar. Confia nas tarefas que realiza. Comporta-se bem nas atividades desenvolvidas.
A conversa está interferindo no rendimento. Reparte os brinquedos com os colegas.
Linguagem: Entende bem o que lhe é falado. Expressa-se com clareza.
Articula bem as palavras. É desinibido e gosta de participar das atividades musicais e teatrais. Dialoga sobre suas vivências espontaneamente. Na hora da história, está disposto a ouvir e participar. Desenvolvimento Cognitivo: Apresenta bom raciocínio matemático. Tem facilidade em compreender as noções matemáticas. Compõe quebra-cabeça. Consegue concentrar-se na realização das atividades.Demonstra interesse e criatividade na execução dos trabalhos. É responsável na execução das atividades. Desenvolvimento Psicomotor: Consegue movimentar-se bem (pular, correr, saltar, arrastar...). Quando modela cria formas diferentes. Apresenta boa motricidade fina (recortar, pintar, colar...). Tem consciência do seu corpo e consegue expressar-se graficamente. Orienta-se bem no espaço e tempo.
10. Referências bibliográficas – livros e demais materiais publicados que serão citados na pesquisa e devem obedecer às normas da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. É um item obrigatório.
11. Anexos – este item só é incluído caso haja necessidade de juntar ao Projeto algum documento eu venha dar algum esclarecimento ao texto. Sua incluso fica a critério do autor da pesquisa.
12. Conclusão – são as respostas claras, objetivas e diretas às questões formuladas na seção do problema. Podem ser respostas consistentes ou provisórias, dependendo do estudo realizado e dos resultados obtidos. Apresentam um conhecimento novo ou reformulação nova do conhecimento existente. O importante é que as conclusões sejam a deduções lógicas da análise efetuada.

ESQUEMA DO TRABALHO

Concluído o Projeto, o pesquisador elaborará um Esquema do Trabalho que é uma espécie de esboço daquilo que ele pretende inserir no seu Relatório final da pesquisa. O Esquema do Trabalho guia o pesquisador na elaboração do texto final. Por se tratar de um esboço, este esquema pode ser totalmente alterado durante o desenvolvimento do trabalho.
Depois de concluída a pesquisa, este esquema irá se tornar o Sumário do trabalho final.
Exemplo:
1 - Título: ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL
2 – Introdução
Desde pequena, ouvia meus pais dizendo que tinha de comer muitas frutas, verduras e legumes, para crescer forte e saudável. Bem, elas não eram o que eu preferia, mas, por obediência, comia. Alguns anos se passaram e hoje reproduzo a fala de meus pais com meus alunos. No início, era apenas um conhecimento empírico, porém, sentindo a necessidade de estimular meus alunos de uma forma lúdica e atraente, fui buscando informações a respeito do assunto e agora, compreendo com mais clareza que a alimentação saudável de uma criança pode garantir um bom desenvolvimento físico e cognitivo. Assim, movida pela vontade de fazer o melhor e pela curiosidade dos alunos, este projeto foi elaborado.
3. Problema
Que papel a escola desempenha na construção de hábitos e estilos de vida no que diz respeito ao consumo de alimentos saudáveis e na consciência de sua contribuição para a promoção da saúde?
4. Justificativa
A escola é um espaço privilegiado para a promoção da saúde e desempenha papel fundamental na formação de valores, hábitos e estilos de vida, entre eles o da alimentação. A promoção de uma alimentação saudável no espaço escolar pressupõe a integração de ações em três pontos fundamentais: (1) ações de estímulo à adoção de hábitos alimentares saudáveis, por meio de atividades educativas que informem e motivem escolhas individuais; (2) ações de apoio à adoção de práticas saudáveis por maio da oferta de uma alimentação nutricionalmente equilibrada no ambiente escolar e (3) ações de proteção à alimentação saudável, por meio de medidas que evitem a exposição da comunidade escolar a práticas alimentares inadequadas.
O mercado da alimentação tem sido um dos mais prósperos da última década e sua conceituação vem se aperfeiçoando de segurança alimentar para segurança do alimento. Assim, consciente de que o tema se insere ou, deve ser inserido, no primeiro campo de ação da prática pedagógica, observando a crescente curiosidade dos alunos a respeito dos alimentos e a valorização crescente em nosso país pela cultura “Fast-food”, elaboramos este projeto.
5. Objetivo Geral: Promover o consumo de alimentos saudáveis e a consciência de sua contribuição para a promoção da saúde de uma forma atraente, lúdica e educativa.
5.1- Objetivos Específicos:
- Pesquisar e registrar sobre a alimentação da família;
- Buscar informações em diferentes fontes de forma a verificar e comprovar hipóteses feitas sobre o assunto;
- Identificar semelhanças e diferenças entre os hábitos alimentares dos alunos;
- Refletir sobre as sua ações diárias em relação a sua saúde, o que engloba cuidado e preservação com o meio ambiente e com a higiene;
- Valorizar atitudes relacionadas à saúde e ao bem estar individual e coletivo;
Valorizar o momento reservado à alimentação.
4. Cronograma das Atividades
Linguagem oral e escrita
- Interpretações pessoais
- Pseudoleitura/Pseudoescrita
- Narração de fatos
- Escrita espontânea
- Reconhecimento de letras
- Leitura oral de gêneros textuais instrucionais
- Reconto
- Escrita espontânea
- Formação de palavras por troca de letra
- Produção textual individual e coletiva
Linguagem matemática
- Sistema de numeração (identificação, traçado e contagem)
- Grandezas e medidas (sistemas de medida não-convencionais)
- Agrupamentos
- Relação bionívoca
- Noções de operação (divisão)
- Situações problemas (adição e subtração)
- Noções de números pares e ímpares
- Situações-problema
- Sistema monetário
- Seriação:
- Semelhança/diferença;
- Pertinência/correspondêmcia)
Artes - Linguagem visual
- Poesia
- Música
- Modelagem
- Pintura
- Desenho
Ciências
- Nosso corpo (higiene corporal)
- Meio ambiente (produção de alimentos)
- Vegetais
- Nutrição e desnutrição
História/geografia
- Modos de alimentação dos grupos sociais;
- Regras e princípios sociais;
- Tempo
5. Recursos/Estratégias
- Rodinha
- Cozinha experimental
- Músicas
- Teatro (vendinha)
- Pesquisas em diversas fontes (revistas, livros de receitas infantis, internet, vídeo...)
- Recorte, colagem e modelagem
- Desenho livre
- Alfabeto Móvel
- Sucatas
6. Metodologia
- Conversa e registro (desenhos) sobre a alimentação preferida das crianças;
- Registro dos alimentos mais consumidos na família;
- Identificação de semelhanças e diferenças entre hábitos alimentares dos alunos
- Construção de charadas que misturem informações sobre formas, cores e tamanhos das frutas, verduras e legumes;
- Construção de jogo da memória a partir de imagens de frutas, verduras e legumes recortadas pelos alunos;
- Identificação de frutas, verduras e legumes através do olfato e tato, utilizando a caixa surpresa;
- Análise das obras do pintor Archiboldo Giuseppe, que utilizou frutas, verduras e legumes na construção das suas obras;
- Solicitar que cada aluno traga de casa uma fruta, verdura ou legumes e conversar sobre as preferências através da degustação;
- Trabalhar com recorte de frutas, verduras e legumes e pedir que os alunos construam um prato que represente uma alimentação saudável;
- Utilização da horta para plantação das hortaliças de rápido crescimento, fazendo a avaliação semanal com registro;
- Palestra com uma nutricionista;
- Visitar uma feira;
- Preparação e degustação de receitas saudáveis;
- Promover pesquisas na internet de figuras e dicas de alimentação saudável;
- Promover concursos de lanches saudáveis;
- Organização de um livro de receitas baseado na história “A Cesta da dona Maricota”
7. Resultado Final
Finalizaremos o projeto com a elaboração de um livro contendo todo o trabalho realizado pelos alunos. Com um momento de degustação das receitas trabalhadas e apresentação dos trabalhos desenvolvidos.
8. Avaliação
A avaliação ocorrerá de forma coletiva, com a participação do grupo. Neste momento os alunos se posicionarão sobre os pontos positivos e negativos do projeto, traduzida em relatos expostos na sala em espaço especialmente organizado e também através de relatório organizado pela professora.
9. Conclusão
De norte a sul, de leste a oeste, o assunto “Alimentação Saudável” é mais do que um tema: é uma meta. Neste contexto, implantar uma campanha educacional sobre o Alimento Saudável por meio da disseminação da informação e da organização do caminho do alimento desde sua produção, perpassando pelo fornecimento de insumos da produção até a escolha do cardápio do consumidor final é um importante instrumento de conscientização. “A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. A segunda meta da educação é formar mentes que estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo que se propõe”. (Jean Piaget).
9. Bibliografia
MARTINS, Rosicler. Vida e Alimento. São Paulo: Moderna, 1993.
Revista Cozinha Prática. Publicação editada pela parceria Instituto do Coração e Edições Cozinha Saudável.
BELINK, Tatiana. A cesta da dona Maricota. São Paulo: Paulinas, 2005.

Resumindo...

Um projeto de pesquisa, então deve ter as seguintes características:
• Tema
• Problema
• Justificativa
• Objetivos
• Metodologia
• Cronograma das Atividades
• Referências Bibliográficas
• Anexos
• Conclusão
OBSERVAÇÃO: o documento final do Projeto de Pesquisa deve conter:
1. Capa
2. Folha de Rosto
3. Sumário
4. Texto do Projeto
5. Referências

RERERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
DIEZ, G. F. A Construção do Texto Acadêmico: Manual para orientação de projetos de pesquisa e monografias. Curitiba: Popular, 2002.

MEDEIROS, J. B. Técnicas de Redação. São Paulo: Atlas, 1991.

RUIZ, J. A. Metodologia científica: guia para eficiência nos estudos. São Paulo: Atlas, 1982.

LOBO, Bruna Leão de Siqueira. Projeto Alimentação Saudável. Santarém/PR, 2007

GONTIJO, Angélica Cristina Moreira. Metodologia do Ensino superior. Coordenação Pedagógica. Paracatu: Prominas, 2009.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

ATENDIMENTO DO DEFICIENTE NA NOSSA SOCIEDADE, PRINCIPALMENTE NAS ESCOLAS. COMO VOCÊ IMAGINA O FUTURO DESSE ATENDIMENTO?

O tema inclusão escolar tem atualmente levantado discussões e polêmicas entre educadores e pessoas ligadas a escola devido à complexidade que o mesmo configura em sua interpretação.
A inclusão escolar envolve desafios e mudanças na escola no que se refere às posturas e idéias do “aluno ideal” e que aprende todos os conteúdos. Por isso, a escola regular necessita de reflexões para perceber as tentativas fracassadas de inclusão, em que os alunos com deficiência são inseridos na escola, tendo que se adaptar aos padrões exigidos pela própria escola, que ainda valoriza a homogeneidade e a reprodução fiel de conteúdos, ensinados de forma igualitária, desrespeitando o ritmo de aprendizagem de cada um.
Para entendermos a luta pelo reconhecimento dos deficientes como seres humanos capazes de desafiar seus próprios limites na busca de uma utopia, que poderá virar realidade, precisamos conhecer a história desses deficientes ao longo de nossa trajetória.
Desde a antiguidade, várias formas de atenção dispensadas aos deficientes os rotularam como inválidos, caracterizando-os como eternos dependentes de assistência, de caridade, de proteção e de tutela, sendo negado aos mesmos os direitos civis, sociais e pessoais, submetendo-os a diferentes formas de valorização e atenção.
A retrospectiva histórica das pessoas nascidas com deficiência nos mostra as várias tentativas do norteamento de caminhos da inclusão, frustrados pelo apego a culturas, ideais e tradições que buscavam verdades incontestáveis. Na Grécia antiga era atribuída ao deficiente uma razão sobre-humana, sendo os atributos mentais, sensoriais e motores do homem, dádivas ou castigo de Deus ou do Demônio, submetendo-os às práticas de extermínio e exposição. Com o advento do Cristianismo houve uma importante mudança na concepção de deficiência, originando a piedade para com essas pessoas, mas continuavam longe de serem reconhecidos seus direitos. Na Idade Média, século XVIII, na Bélgica, surgem as primeiras instituições de assistência ao deficiente mental. Porém a legislação sobre os cuidados necessários ao deficiente surgiu na Inglaterra, somente no século XIX, onde estava prescrita a incumbência do rei: zelar pelas pessoas portadoras de deficiência. No renascimento houve o fortalecimento da visão antropocêntrica em relação ao entendimento da natureza humana e com isso, as ciências físicas e naturais avançaram os seus estudos e pela primeira vez houve uma preocupação científica e pedagógica para com os deficientes. A partir daí houve outros interesses em se estudar mais profundamente a deficiência mental, concluindo que as causas da deficiência e da normalidade estariam determinadas pela composição biológica do indivíduo ligado a origem de uma lesão ou disfunção do sistema nervoso central. O surgimento da Revolução Industrial veio contribuir com um imaginário social sobre a deficiência em geral, associado-a a noção de produtividade. Assim, a deficiência passou a ser entendida como um fator impeditivo para o trabalho fabril, marca registrada do capitalismo na época, excluindo a pessoa com deficiência do padrão da normalidade pretendida deixando-os à margem dos direitos sociais. O surgimento dos primeiros métodos e teorias relacionadas à educação dos deficientes mentais deve-se a descoberta do menino Vítor, criado no meio de lobos, que ativou a idéia de que o conhecimento é originário da experiência e da influência do meio ambiente. Com o advento do fenômeno da educação e tecnologia, característica do século XX, fortalece o crescimento das ciências humanas, sociais e tecnológicas, surgindo uma grande demanda pelo conhecimento e mesmo diante destes acontecimentos as pessoas deficientes continuaram à margem de todos os seus direitos na sociedade, que passou a exigir habilidades específicas para o trabalho, provocando na escola um grande fluxo de matrículas no ensino regular. Os deficientes também buscaram por essa escolaridade, o que provocou reação imediata do sistema educacional levando à criação de escolas e classes especiais para “depositar” os alunos com deficiência (APAE’s). Com a concepção interacionista da aprendizagem (construção da aprendizagem efetuada na interação do sujeito com o objeto) as práticas educacionais ficaram intocadas, centrando a responsabilidade da aprendizagem no deficiente, que diante das dificuldades acabaria por evadir-se da escola.
Foi exatamente na década de 90 que o movimento ganhou ímpeto, ocorrendo a realização de um importante vínculo do movimento da inclusão com a reforma geral da educação: às escolas cabe a função de atender a todos sem distinção e discriminação que têm como eixos o convívio com as diferenças e a aprendizagem como experiência relacional e participativa.
A Constituição Federal de 1988 garante a todos o direito à educação e ao acesso à escola, sem uso de nenhum adjetivo, porém a LDB 9.394/96 diz respeito à educação de todos numa única escola, admitindo a possibilidade de substituição do ensino regular pelo ensino especial.
Em 1994 a Conferência Mundial sobre as necessidades educativas especiais, realizada na Espanha, que recebeu o nome de Declaração de Salamanca, enfatizou a necessidade de transformação dos sistemas educativos, visando atender às crianças, jovens e adultos contemplando suas características e necessidades.
Através do relato histórico sobre os deficientes na sociedade e na escola, podemos observar, no entanto, que surgiram e surgem políticas que tentam projetar a inclusão, mas de nada adianta impor propostas de valorização do ser humano de forma radical garantidas na Lei. A valorização do ser humano deve ser construída através da consciência de cada ser que pensa, que convive e que acredita na igualdade.
Enquanto essa idéia não se consolida, a inclusão vai se distanciando, de fato, da realidade. Essa é uma tarefa complexa que vem ao longo da nossa história enfrentando muitos desafios.
Em se tratando da inclusão escolar nota-se a necessidade de profundas mudanças no seu projeto como um todo, partindo da proposta pedagógica, à postura teórica e prática dos profissionais. Como toda mudança sugere sair da rotina e mudar o comportamento, talvez seja esse um dos maiores empecilhos à incorporação desse novo modelo educacional. Visto que as nossas políticas educacionais continuam insistindo em “apagar incêndios”, mas não avançam como deveriam e continuam se distanciando das questões que levam à inclusão escolar.
De acordo com Freire (1996, p.43), “a prática docente crítica, implicante do pensar certo, envolve o movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar sobre o fazer”, ou seja, o educador deve estar atento às suas atitudes, desde o discurso à ação, necessitando acreditar que na diversidade cultural é que acontece a mais rica troca de experiências e que ensinar demanda também aprender, criando possibilidade para a sua construção, através da intersubjetividade.
Diante das colocações apresentadas devemos refletir sobre: que sociedade temos agora? O que mudou? Que escola queremos? O que nós, educadores, podemos mudar? O que realmente queremos mudar?
Os sistemas permanecem os mesmos e as relações de poder continuam a existir dentro das escolas, inibindo a criatividade e a autonomia dos professores e dos alunos.
Será que devemos lutar por um novo modelo educacional capaz de nos envolver no processo de construção do conhecimento, sua organização e seu funcionamento, associados à necessidade de desenvolvimento e uma nova visão de mundo? Com base neste novo olhar o aluno passará a ser visto como aquele ser que aprende, que atua na sua realidade, que constrói o conhecimento, não apenas usando o seu lado racional, mas também utilizando todo o seu potencial criativo, o seu talento, a sua intuição, o seu sentimento, as suas sensações e as suas emoções?
Pensar no novo modelo da educação no futuro, remete-me ao questionamento da posição dos educadores do hoje: porque esperar que somente no futuro novas e brilhantes idéias se concretizem? Por que não tomam como ponto de partida essas transformações para a sua formação continuada? O que precisam fazer no hoje, no agora para se ter a educação que seja a ideal para o futuro?
De fato, há um abafamento de iniciativas. Todos ficam na espera que alguém diga o que fazer e para onde ir. O medo do desafio torna-nos temerosos com o nosso futuro, e por isso ficamos inventando um novo modelo de escola para um futuro que ainda não conseguimos imaginar.
Refletindo sobre a educação que deveria ser para todos, não consigo imaginar onde estarão as crianças deficientes, enquanto esperam que nós, “educadores ditos normais” encontremos soluções e situações mais adequadas para que elas façam parte do que formamos todos juntos: a raça humana.

Música Condição Lulu Santos utilizada na campanha “iguais na diferença”
Eu não sou diferente de ninguém Quase todo mundo faz assimEu me viro bem melhor Quando tá mais pra bom que pra ruim Não quero causar impacto Nem tampouco sensação O que eu digo é muito exato E o que cabe na canção Qualquer um que ouve entende Não precisa explicação E se for pensar um pouco Vai me dar toda razão A senhora, a senhorita e também o cidadão Todo mundo que se preza Nega fogo não Eu não sei viver sem ter carinho É a minha condição Eu não sei viver triste e sozinho É a minha condição Eu não sei viver preso ou fugindo.

domingo, 9 de agosto de 2009

PERSPECTIVA DE UMA NOVA METODOLOGIA EDUCACIONAL: NOVA VISÃO NECESSÁRIA AO EDUCADOR DO SÉCULO XXI

INTRODUÇÃO

Uma das questões que deve ser salientada é o motivo de se estar revendo conceitos de autores que, apesar de já terem sido amplamente estudados pelos profissionais da educação, são de grande valia para o entendimento de novas teorias que abordam desde o ensino infantil até o ensino médio.
O fator relevante para essa abordagem é o fato de que o pedagogo tenha como parâmetro o novo perfil de aluno que chegará até as escolas, preparando-o no aperfeiçoamento das suas práticas diárias, no intuito de contribuir na formação do educando desde o seu ingresso no ensino infantil.
Epera-se que na medida em que o pedagogo auxilie o educando desde tenra idade, este possa ter voz ativa para autogestar seu conhecimento, tornando-se um sujeito ativo, participante do processo histórico, capaz de contribuir na transformação do seu espaço e da própria sociedade na qual está inserido.
Como se sabe, a sociedade deste milênio vem sendo marcada por significativas transformações no mundo do trabalho, da produção e das relações sociais, apontando carências de um novo perfil de educadores capazes de capacitar os cidadãos das diversas áreas do conhecimento humano para uma nova convivência participativa e crítica nessa “nova” sociedade.
O papel do novo educador não é mais levar a informação até o educando e sim mediar às informações que já estão com eles, transformando-as em conhecimento e conseqüentemente em sabedoria, ou seja, “aplicabilidade”. Paralelamente, vivencia-se também o desafio de se acatar novos projetos para a educação brasileira que dêem conta dessa formação continuada dos profissionais como declara o texto legal, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 9.394-96 - de formar novos profissionais, trabalhadores e cidadãos, que devem estar atrelados e cientes do mundo científico e tecnológico de que fazem parte, visando a construção de uma sociedade mais igualitária e justa para todos.
Esse é o desafio posto a todos os educadores enquanto formadores de novos profissionais. É preciso contribuir para a construção de um novo projeto educativo, uma nova formulação pedagógica à altura das exigências e carências do mundo contemporâneo. É papel, de todos aqueles, de fato, comprometidos com a melhoria de um novo cenário e da nova ordem mundial, no contexto social, político, histórico, cultural e educacional do País.
Então, pergunta-se. Que tipo de educação? Que tipo de didática se requer e possa contribuir para a formação de cidadãos trabalhadores, com o espelhamento que esta sociedade atual está a exigir? Que currículo deve garantir o desvelamento do ato educativo, como ato político, como diz Freire (1985), isto é, transformador dos sujeitos inseridos no processo em rede de conhecimentos e saberes que possa assegurar efetivo entendimento histórico da época em que vivem os homens, do mundo contemporâneo e dos fundamentos teóricos da Educação de hoje. Em outras palavras, que conteúdos privilegiar para que os sujeitos democráticos possam se apropriar/instrumentalizar desses novos conhecimentos científico-tecnológicos em rede e como esses saberes, enquanto fios condutores
As teorias anteriormente referidas passaram a revigorar o cenário da educação brasileira, tendo em vista a então necessidade de defesa da ação libertadora do sujeito humano silenciado pela realidade objetiva de mercado. Para a metodologia, essas teorias auxiliaram a reflexão dos professores sobre o processo de ensino-aprendizagem no que dizia respeito à relação professor-aluno, às operações mentais dos alunos, ao conhecimento, à importância das atividades socializadas e de interação na sala de aula, à utilização de atividades do interesse e produção dos alunos, à organização dos conteúdos e à avaliação do aluno.
Que metodologias, métodos e recursos estão à disposição para a preparação de profissionais, capazes de responder aos novos paradigmas e perfil profissional, que os levem a ser capazes de tomar decisões, de administrar conflitos oriundos dos cotidianos do mundo do trabalho? Como resolver e solucionar problemas? Como serem gestores de situações novas? Como comunicar-se com eficiência diante das mídias existentes e atuar com participação e autonomia da ação pedagógica?
Sendo assim, cada vez mais, as ciências questionam o paradigma científico até então utilizado como base da produção e divulgação do conhecimento, propondo o paradigma holístico para se trabalhar os saberes, isto é, propondo-se que se estudem as diferentes áreas do conhecimento de forma interligada, como o todo que as formam.

A SOCIEDADE DO CONHECIMENTO

A partir da ação-reflexão-ação (ALARCÃO, 2003), o educador deve repensar sua futura prática pedagógica cotidiana no encaminhamento de novas alternativas didáticas da ação docente, no descortinar de metodologias, realmente críticas e transformadoras da relação Homem-Mundo oxigenadas por diálogos atuais e produtivos.
Frisar o ponto de partida e de chegada da metodologia educacional não é ensinar ou traçar regras rígidas e tecnocráticas do simples ato de ensinar ou transmitir receitas prontas tão somente dos conteúdos programáticos oferecidos pelos diversos currículos oficiais para as diversas áreas de conhecimento, mas apresentar elementos didático-educativos que possam auxiliá-los no repensar de sua ação docente futura e, conseqüentemente, no projeto pedagógico da construção de uma nova escola, no âmbito do ensino.
Não se pode esquecer que os alunos do século XXI estão sendo preparados para este admirável novo mundo e a reflexão cabe tanto a quem já está em sala de aula lecionando no Curso Superior, quanto àqueles que preparam as crianças, adolescentes e jovens, pois esses que levaram o novo perfil às universidades, alunos que são considerados por muitos apáticos, ora hiperativos, “conversadores”, sem disciplina, entretanto, este novo século que precisa de formadores de opinião, Líderes que façam diferente para uma nova tentativa de marcar a educação brasileira, a escola e a universidade que na década de 80 e 90 foram consideradas tão boas, tão construtoras, tão disciplinadas. Essas trouxeram um presente neste início de século XXI, marcado por adultos muitas vezes sem norte para seguir sua vida profissional e até pessoal, cabe a questão em que a educação deixou a desejar?
A Sociedade do Conhecimento (ou: Digital – da Informação – Em rede) tem o conhecimento como gerador de riqueza de estruturação:
• Horizontal - em rede
• Incertezas - Desafios
• Declínio do trabalho braçal
• Profissões em extinção
• Novas profissões/ “Trabalhadores do Conhecimento”
• Responsabilidade coletiva pelos resultados
• Equipes de trabalho autodirigidas
• Uso intenso das novas tecnologias
De que Escola e educação os indivíduos precisam?
• Desenvolvimento da autonomia
• Senso crítico
• Capacidade de análise e síntese
• Capacidade de trabalhar em equipe
Embasado nos propósitos da UNESCO, os requisitos para a cidadania na Sociedade do Conhecimento, “Códigos da Modernidade – Bernardo Toro”.
• Alta competência em leitura;
• Alta competência em cálculo matemático e resolução de problemas;
• Alta competência em expressão escrita (descrever, analisar/comparar, expressar, pensar.)
• Capacidade para descrever, analisar, e criticar o ambiente social;
• Capacidade para receber criticamente os meios de comunicação de massa;
• Capacidade para criar, decidir e trabalhar em grupo; Capacidade para localizar, acessar e usar informação acumulada (TIC e outras tecnologias)
• Ser flexível e não especialista demais;
• Ter mais criatividade do que informação;
• Estudar durante toda a vida;
• Adquirir habilidades sociais e capacidade de expressão;
• Assumir responsabilidades;
• Ser empreendedor;
• Entender as diferenças culturais;
• Adquirir intimidade com as novas tecnologias.
Diante de tudo isso a proposta é pesquisa, adaptação, não temer o novo, viver com a diversidade do indivíduo dentro ou fora de sala de aula, fazer das inúmeras informações que o educando leva até o professor em arte de ensinar, e, sobretudo, deixar claro para o aluno que a informação apenas não sustenta a formação para ser um bom profissional e para ser um indivíduo feliz.
Os pedagogos, como adultos da situação e mediadores da informação ao conhecimento, têm, conseqüentemente, em seu poder a sabedoria para contribuir com a formação desta nova sociedade. A qualidade do ensino dentro dessa nova sociedade precisa estar associada a muitos fatores, como um bom planejamento educativo, um sistema de avaliação contínuo e formativo, inclusive, a procedimentos metodológicos coerentes com a demanda dos alunos, com a cultura contemporânea e com uma prática docente competente.
Segundo Rios (2002), o conceito de qualidade é abrangente, é social e historicamente determinado porque emerge de um contexto. Assim, é preciso pensar que existe um padrão de qualidade que pode ser cultural, porém, o que está se falando da qualidade é do aprender a aprender, do aprender a fazer, do aprender a conviver e do aprender a ser, ou seja, os quatro pilares que sustentam uma educação que favorecerão uma melhor qualidade de vida.
Entretanto, o que efetivamente interessa discutir é a respeito de quais alternativas metodológicas, o professor pode adotar para melhorar a qualidade do ensino, e, conseqüentemente, a aprendizagem dos alunos, para que esses possam desenvolver suas habilidades, transformando-as em competências para transformar-se em um cidadão consciente, participativo e autônomo na sociedade.
Sabe-se que para que haja esse trabalho de desenvolvimento de habilidades em competências, há que se pensar em algumas mudanças na prática educativa do professor. Para uma melhora significativa no desempenho dos alunos dos estabelecimentos escolares os professores podem contribuir das seguintes formas:
• Buscando desenvolver pontos de vista comuns quanto à maneira como seus alunos aprendem;
• Procurando se engajar em ações coletivas para pôr em prática esses pontos de vista comuns;
• Assumindo a responsabilidade pela progressão de seus alunos, avaliando e acompanhando a sua aprendizagem;
• Unindo-se para envolver seus alunos no processo de desenvolvimento;
• Desenvolvendo uma competência coletiva de cooperação que permite transformar no dia- a- dia, a coerência dos processos e dispositivos de aprendizagem;
• Conseguindo obter reconhecimento do seu trabalho e com isso, mais apoio da escola;
Dispondo de recursos para gerir de maneira mais autônoma, para implantar projetos pedagógicos que correspondam ao contexto local;
• Sendo avaliados continuamente, com base em um conjunto de indicadores: os usuais de desempenho, através do engajamento com os alunos, mediante as competências profissionais individuais e coletivas dos professores, além da eficácia da implantação de projetos pertinentes ao desenvolvimento da aprendizagem.
Ao refletir sobre essas lógicas, é preciso discutir alternativas metodológicas que são necessárias para que o professor tenha condições de mediar o conhecimento científico aliado às várias linguagens culturais da contemporaneidade.
Faz-se necessário saber que a prática docente não pode se restringir somente às metodologias e didáticas, porém, é sabido que esses elementos são de fundamental importância para que o ensino e aprendizagem ocorram de maneira harmoniosa e competente.
Sabe-se que a partir desse entendimento, devem-se pontuar algumas idéias de educadores, sobre os métodos, estratégias e procedimentos didáticos que se trabalhados dentro de um contexto cultural, participativo e dinâmico, poderão favorecer a melhora da qualidade do processo educativo.
Segundo Cavalcante (2005), muitos professores têm dificuldades de passar o discurso pedagógico do papel para a prática, por isso ela sugere algumas dicas preciosas para os professores de todas as disciplinas:
• Planejamento do trabalho: conhecer a turma para saber o que vai fazer, pois uma turma é sempre diferente da outra, um aluno é diferente do outro.
Dar flexibilidade ao planejamento para ir se estruturando durante o percurso;
• Contextualização de todos os conteúdos com vários temas culturais que estão circulando na sociedade;
• Estabelecimento de objetivos claros dentro de cada conteúdo e da metodologia didática, ou seja, conexão entre o objetivo e a estratégia de trabalho;
Conhecimento prévio dos alunos é uma medida fundamental para iniciar o trabalho com os conteúdos, pois é a partir desse diagnóstico que o professor vai trilhar os percursos;
• Trabalho com a interdisciplinaridade para os alunos estabelecerem relações entre os saberes, tendo em vista, favorecer uma melhor associação de idéias, e, conseqüentemente, uma melhor aprendizagem;
• Uso constante da transdisciplinaridade para colocar o aluno em contato com as culturas e acontecimento da realidade atual, no sentido de torná-lo atualizado e dinâmico;
• Estabelecimento de uma seqüência didática que desafie os alunos a construir seus conhecimentos de maneira mais autônoma e consciente daquilo que aprendeu e do que precisa de maior investimento;
• Trabalhar com temas transversais, abordando valores fundamentais à formação do cidadão;
• E, ainda, conscientizar-se de que todos aprendem em ritmos e tempos diferentes, por isso, há de se respeitar as limitações, porém, oferecendo estímulo e condições para que todos os alunos progridam na aprendizagem;
O professor precisa compreender o que é formação cultural e saber retirar temas culturais da realidade atual e agregá-los à agenda educacional.
E quais seriam as melhores estratégias de trabalho na sala de aula com tantos temas?
O professor deve mudar a sua forma de atuação, devendo atuar como um analista crítico e artista cultural, um intelectual capaz de pensar, dizer e fazer algo diferente. E, além disso, ele deve estimular nos alunos outros modos de ver, pensar a realidade. Deve trocar experiências com alunos de forma a ampliar os conhecimentos de todos. É nessa ótica, que se faz necessário pensar que todos os assuntos a serem trabalhados na sala de aula deverão deixar de ser transmitidos por si mesmos, ou seja, deverão estar associados a uma temática cultural que integra a vida dos alunos, contribuindo dessa forma, para um ensino mais dinâmico e criativo, e, sobretudo, por uma aprendizagem mais significativa e carregada de sentido.

POSSIBILIDADES PARA RESSIGNIFICAR UMA PRÁXIS

Ao longo da história, todas as grandes mudanças exigiram uma transformação do pensamento, da visão ou da interpretação da realidade. Isto é, aquilo o que costumava chamar-se de “mudança de paradigma”. As mudanças sociais e políticas são relevantes, mas para uma reforma profunda na educação, o primeiro passo é fundamental: uma mudança nas “crenças” dos professores e da cidadania em geral, o que possivelmente levará tempo, mas que começa a ser fomentado.
Freire (1985) afirma que ninguém educa ninguém e ninguém se educa sozinho; as pessoas se educam na comunhão, no encontro e não se pode apressar o encontro. Um facilitador autêntico é aquele que fornece condições para que uma segunda pele se desenvolva embaixo, até a casca tornar-se obsoleta, caindo por si mesma. Sendo assim, “a paciência é um elixir de longa vida e a inteireza do facilitador, consciente do valor do tempo que transmuta a ferida da ostra em pérola, não abreviará os seus dias”. (CREMA,1995, p. 58).
Toda proposta educacional vem impregnada de um modelo, o interessante é a capacidade e discernimento da docência no momento de seu desvelamento. É necessário fazer um paralelo da práxis dentro de cada Lei em seu contexto histórico, de acordo com Freire (1985) o fato de tornar-se ou de apropriar-se do poder é o empoderamento docente o qual Albert Einstein, sem mesmo conhecer o termo já o definiu a tempos dizendo: O ser humano vivência a si mesmo, seus pensamentos como algo separado do resto do universo - numa espécie de ilusão de ótica de sua consciência. E essa ilusão é uma espécie de prisão que nos restringe a nossos desejos pessoais, conceitos e ao afeto por pessoas mais próximas. Nossa principal tarefa é a de nos livrarmos dessa prisão, ampliando o nosso círculo de compaixão, para que ele abranja todos os seres vivos e toda a natureza em sua beleza. Ninguém conseguirá alcançar completamente esse objetivo, mas lutar pela sua realização já é por si só parte de nossa liberação e o alicerce de nossa segurança interior (EINSTEIN [sd]).
Diante disso, percebem-se algumas competências na formação e identidade docente necessárias no século XXI, bem como a transição do “ser mais”-“ser menos” e algumas características da construção do conhecimento sob a ótica da “inteireza” (FREIRE, 1985).
A busca pela ressignificação da práxis docente vem sendo feita de forma vertiginosa depois da Lei 9394/96. Talvez pelo seu teor aparentemente inovador ou pela própria necessidade de mudança que já se espreitava nos últimos anos de vigor da Lei 5692/71.
Com as novas regras do mercado de trabalho e a necessidade de referenciais, compreendidas nos últimos dez anos, a educação viu-se obrigada a se reestruturar, visto que formar o cidadão somente para o trabalho como era ditame da 5692/71 não atendia mais as necessidades da sociedade.
O novo “homem” precisa de uma formação para o trabalho e para a vida, em que seja capaz de tomar iniciativas próprias, em momentos únicos diante de situações imprevisíveis. O que dita a regra do mercado nestes últimos anos é a satisfação pessoal.
Fabricar um produto com designer sofisticado ou preço competitivo já não é diferencial de nenhuma empresa. Atualmente o diferencial é a satisfação do cliente. Hoje se vende muito mais ilusão, bem estar, sem falar na fidelização do cliente.
E o que a educação em haver com isto? Absolutamente tudo. Educação, política e mercado de trabalho estão interligados.
Na nova LDB 9394/96 o educando foi colocado como centro elíptico do processo, o que gerou um choque na docência e conseqüentemente uma resistência muito grande o professor acostumado ao status de “detentor do saber”, peça insubstituível do processo ensino/ aprendizagem, se viu na empreitada dialética da mediação.
O professor “mediador” vai além do domínio de seus saberes específicos, ele é capaz de compreender a diversidade, a leitura de mundo de seus educandos e, ainda, de respeitar o tempo que cada um tem para processar novos conteúdos. A aprendizagem é feita por ambos reconstruindo, redescobrindo a cada momento o conhecimento.
Acostumado ao comodismo de um aluno receptor, era inevitável a necessidade da ressignificação da práxis docente, mas como fazer isto? A falta de condições da docência de estar acompanhando as mudanças, se aperfeiçoando,encontra alguns agravantes como falta de condições financeiras e de tempo por ter que trabalhar em duas, três escolas, conciliando vida familiar.
O momento é único e a ressignificação já não é mais questão de opção, estamos convivendo com ducandos que são fruto de uma sociedade sem referencial por motivos como: a ausência dos pais, que trabalham incessantemente; o individualismo; o consumismo crescente, fruto de uma política de globalização capitalista; as várias opções de facilidade do mundo digital...
Nesse contexto, a educação conteudista perdeu seu valor, seu encanto, o professor detentor do conhecimento não basta. Seu papel não pode mais atender interesses ditados por políticas e pelo mercado de trabalho. A lei 9394/96, mesmo com todas as críticas presentes, proporcionou uma possibilidade de visão da sociedade que modificou o papel do educador, seu caráter flexível trouxe discussões, o que vem possibilitando redesenhar papéis. E é esta flexibilidade que a diferencia da 5692/71.

A FORMAÇÃO E A IDENTIDADE DOCENTE

As competências da docência do século XXI são discutidas por inúmeros autores com algumas variáveis, mas todas têm o foco central na relação dialética educador/ educando, ou pessoa / pessoa que ressalta a importância da construção do conhecimento de forma mútua, em uma troca saudável.
Segundo Freire (1985), essas competências tem forma conceitual e política, e como já citamos, a educação anda atrelada à necessidade do mercado, não que isto seja de um todo ruim, pois a formação do educando é para o trabalho e para a vida, o cuidado que se precisa ter é para não reproduzir o interesse de uma minoria elitizada.
Os docentes estão, como já citado, em busca da ressignificação da práxis. Certa insatisfação é notável com o convívio, mas toda mudança traz desconforto e nem por isso deixa de acontecer.
Vejamos algumas competências da docência.
Segundo Crema (1995, p.27) há três tipos básicos de mediadores ou educadores: o centrado na técnica, o centrado na pessoa e o holocentrado.
O primeiro diz respeito à infância do facilitador quando ele é basicamente um técnico. Crema considera essa uma fase importante e necessária, desde que nela não se fixe, o que geraria uma esclerose metodológica e a falência da criatividade.

PESSOA ⇒ OBJETO

O segundo tipo permite o encontro. Diz respeito à maturidade do facilitador. “O vetor é bilateral: a atenção expande-se na mutualidade, há sinergia”. Centrar-se na pessoa não significa negar técnicas e modelos, significa colocar a pessoa no centro, ficando a teoria e a tecnologia ao seu serviço. Implica em movimento: a compreensão e percepção abertas produzem novas teorias e novas técnicas, mudanças que permitem que cada encontro seja singular e tenha o seu próprio desenho.
O terceiro tipo supõe a excelência. O vetor da conexão é o infinito (∞). Centrar-se na pessoa é uma atitude antropocêntrica, excluidora da dimensão não humana. A pessoa não está isolada, ela se insere no todo e dele faz parte. Parte de um universo – “imensa rede, incomensurável tapeçaria, uma teia interconectada de eventos probabilísticos”: movimento permanente, incompletude, mudança. Desenvolver a ação facilitadora na rede da vida, considerando a universidade – unidade na diversidade – considerando o movimento, a incompletude.
Diante dessas análises, pode-se observar que a formação e a identidade docente foram os maiores alvos na mudança da LDB e isso, como já analisado levou a busca de uma ressignificação da práxis.
Freire (1985, p. 29) “Mais uma vez os homens, desafiados pela dramaticidade da hora atual, se propõe, a si mesmos, como problema. Descobrem que poucos sabem de si, de seu ‘posto no cosmo’, e se inquietam por saber mais”.
Essa busca por se conhecer mais leva ao “ser mais” que seria a humanização do homem para com o homem, sentindo-se parte dos movimentos da história, conhecendo seu papel na sociedade como responsável por mudanças e estagnações sociais.

O CONHECIMENTO NA NOVA PRÁXIS DOCENTE

Pode-se concluir que o conhecimento é reconhecido como corpo, cérebro e coração tratados com objetividade, simplicidade e sinceridade, ou seja, de forma direta, equilibrada e verdadeira. Razão e emoção em equilíbrio.
A dimensão metodológica, que hoje incorpora as chamadas novas tecnologias educacionais, estrutura caminhos, define abordagens e facilita o encontro. Entretanto, por mais modernas que sejam: páginas na Web, vídeo conferências, CD roons interativos, revistas on-line e universidades virtuais, não eliminam, nem minimizam a necessidade de ações simples como:
• Fazer acontecer;
• Passar do mecânico ao biológico;
• Dinamismo;
• Interdisciplinaridade;
• Universalização;
• Utopia (como sonho possível é ela que carrega dentro de si o campo histórico das múltiplas possibilidades, o otimismo, a liderança dos homens que rompem os limites do seu tempo e o fazer permanente dos homens e mulheres que, por vezes, usando apenas as mãos e o coração, tecem a vida de forma simples e nos ensinam que é preciso bem pouco para ser feliz).
Pode-se dizer que educar no contexto da realidade atual exige competência, classe mundial com domínio das novas tecnologias educacionais e muita criatividade e ao mesmo tempo, a manutenção de uma mente aberta a todas as mudanças.
É necessário que o educador tenha capacidade de selecionar e readaptar-se ao novo, ser ousado, ser capaz de saltar para o desconhecido, afirmando o viver evolutivo, ousar reivindicar, atrevidamente, essa é uma das condições de seres eretos, destinados à inteiração uns com os outros.
É promissor constatar que um número progressivo de indivíduos, das mais diversas origens, culturas e ocupações, está abrindo os olhos, despertando e conspirando pela renovação consciente de nossos horizontes. Não será um bom tempo para os insensíveis, sonolentos e arrogantes proprietários das velhas certezas?

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Atualmente há necessidade de estar atento e buscar reflexões mais aprofundadas sobre quem educa o educador?
A resposta, como todo ato em Educação, não é simples, pois se sabe que os cursos de graduação, na busca de “qualidade de ensino”, privilegiam esta ou aquela teoria, esta ou aquela tendência pedagógica, com metodologia e características próprias, deixando muito a desejar no processo de formação. Muitas vezes, a discussão maior do ato educativo promove condicionamentos que interferem nos papéis desempenhados pelos professores e que recaem de forma desestimuladora nos alunos.
Não existe receita mágica, assim como não se muda nada e nem ninguém de um dia para o outro. O importante é a busca constante do saber, tendo consciência de que a educação é construída ao longo da vida e como dizia Paulo Freire “o homem é um ser inacabado”, sendo assim, todo professor que tem essa consciência de ser inacabado está sempre em busca de novos conhecimentos para ressignificar a sua identidade e, sobretudo, a sua prática.

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ALVES, Rubem. A alegria de ensinar. São Paulo: Ars Poética, 1994.
CAVALVANTE, Meire. 20 dicas para dominar as modernas práticas pedagógicas. Nova escola. São Paulo, n.188. 2005.
CREMA, Roberto. Saúde e Plenitude: Um Caminho para o Ser. São Paulo: Summus,1995.
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_______Paulo. Educação e Mudança. 14 ed. Paz e Terra, São Paulo, 1988.
Lisboa: Unesco/Edições ASA. 1996. 3 “Códigos da Modernidade” de José Bernardo
Toro in.: Aprendendo a Ser e a Conviver. Antônio Carlos Gomes da Costa
MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: As Abordagens do Processo. São Paulo: EPU, 1986.
RIOS, Terezinha Azeredo. Compreender e ensinar: por uma docência de qualidade. 3 ed. São Paulo: Cortez, 2002.
THURLER, Mônica Gather. As competências para ensinar no século XXI. A formação dos professores e o desafio da avaliação. Porto Alegre: Artmed, 2002.

FONTES DIGITAIS

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O VOCÁBULO DIDÁTICA www.centrorefeducacional.pro.br/didat.htn