quinta-feira, 24 de setembro de 2009

SUSTENTABILIDADE DA TERRA: PROPOSTA DE UM NOVO MODELO DE PEDAGOGIA

“Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no universo... Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer. Porque eu sou do tamanho da minha altura”... (Fernando Pessoa)

Diante do grande problema ecológico do planeta, surgem alternativas numa cultura de paz e uma cultura da sustentabilidade.

Sustentabilidade não tem a ver apenas com a biologia, a economia e a ecologia. Sustentabilidade tem a ver com a relação que mantemos conosco, com os outros e com a natureza.

Não entendemos o universo como partes ou entidades separadas, mas como um todo sagrado, misterioso, que nos desafia a cada momento de nossas vidas, em evolução, em expansão, em interação. Razão, emoção e intuição são partes desse processo em que o próprio observador está implicado.

O universo não está lá fora. Está dentro de nós. Está muito próximo de nós. Um pequeno jardim, uma horta, um pedaço de terra é um microcosmos (pequeno universo) de todo o mundo natural.

Nas circunstâncias atuais, faz-se necessário repensar a educação numa perspectiva planetária, assim como a ressignificação das ações dos homens dentro de suas representações.

Continuar mantendo uma posição de neutralidade em relação à sustentabilidade, mantendo em posição de conforto e bem estar, indiferente ao que está acontecendo e o que está por vir, é o mesmo que manter uma cegueira que impede de ver o coletivo, o espírito solidário. Este espírito de neutralidade é como se fosse uma forma de agir a favor da eliminação da terra.

Uma nova Pedagogia poderá configurar-se como fazeres que contemplem novas perspectivas e, concomitantemente, promovam reações conscientes, mudando as pessoas, fortalecendo-as para ações mais visíveis, abrangente e, sobretudo, mais práticas, e com mais urgência. Ações que produzam novas leituras de um mundo mais humano e solidário.

As escolas, como espaços de coesão social, onde se processa a educação, devem está voltada para os significados e se conscientizarem a importância de se preservar o que ainda existe no planeta, percebendo que o homem é quem organizam ações destruidoras determinadas pelas relações de poder, direcionada para produção, para negócios que visem lucros, inibindo a sustentabilidade. Um referencial no convívio com o ciclo ambientalista é a consciência que preservar a terra é o mesmo que preservar a vida que corre risco de extinção.

“Desafios limites devem ser encarados com ações inéditas e viáveis” (Paulo Freire). A educação deve pensar e agir nas mudanças de atitudes em relação ao planeta, de tal forma que viabilize alimento, abrigo, afeto e ocupação dignos da inteligência e potencialidades do homem para se engajar na perspectiva para uma educação que vise o planeta como um todo e a sustentabilidade.

Atualmente, necessitamos de uma Pedagogia que conduza de forma emergente as questões da sustentabilidade, contemplando as questões inerentes aos problemas ambientais de todo o nosso ecossistema. Como pedagogo é aquele que conduz e que ampara, a terra necessita urgentemente de pedagogos para ampará-la.

A proposta é de um novo paradigma pedagógico: a ECOPEDAGOGIA:

1. Fundada numa visão sustentável do planeta terra;

2. Uma “Pedagogia da Terra” que proponha um conjunto de saberes e valores interdependentes:

2.1-Educar para pensar globalmente: diante da era da informação, não adianta acumular informações. É preciso saber pensar, refletir a realidade. Daí a necessidade do saber aprender, do saber conhecer, que envolve novas metodologias e novas práticas pedagógicas para reestruturar um novo olhar para salvar e preservar o que ainda existe;

2.2-Educar os sentimentos: educar para sentir e ter sentido, para cuidar e cuidar-se, para não ser indiferente e sim para ser solidário e sensível. Somos pare de um todo em construção, por isso é necessário uma educação sobre o sentido da vida em relação a terra.

2.3-Ensinar a identidade terrena: educar para sensibilizar-se de que a terá é a nossa morada e por isso temos que cuidar e protegê-la.

2.4-Formar para a consciência planetária: a Terra é uma só nação e nós os seus cidadãos. Separar primeiro de terceiro mundo significa dividir o mundo para governá-lo a partir dos mais poderosos; essa é uma divisão contrária ao processo de planetarização. Não somos seres fragmentados e sim um único planeta.

2.5-Formar para a compreensão: formar para ética humana e para comunicar-se, um novo conhecimento ético e uma nova inteligência do mundo, porque a solidariedade não é apenas um valor, é condição de sobrevivência de todos.

2.6-Educar para a simplicidade e para a quietude: orientar para a constituição de novos valores: simplicidade, austeridade, quietude, paz, saber escutar, saber viver juntos, compartir, descobrir e fazer juntos.

A Ecopedagogia, tal como vem sendo desenvolvida implica uma reorientação dos currículos que incorporem certos princípios como:

1. Considerar o planeta como uma única comunidade;

2. Considerar a Terra como mãe, como um organismo vivo e em evolução;

3. Construir uma nova consciência que sabe o que é sustentável, apropriado e faça sentido para a nossa existência;

4. Ser terno para com essa casa, a Terra, nosso único endereço;

5. Desenvolver o senso de justiça sócio-cósmica, considerando a Terra como um grande pobre, o maior de todos os pobres;

6. Promover a vida: envolver-se, comunicar-se, compartilhar, problematizar, relacionar-se e entusiasmar-se;

7. Caminhar cotidianamente com sentido;

8. Desenvolver uma racionalidade intuitiva e comunicativa: afetiva e não instrumental.

Cabe a educação encarar as inúmeras representações e apresentar elementos que viabilizem vida e não a morte da vida, por isso a necessidade de constituir uma Pedagogia voltada para a vida em sociedade, promovendo mudanças de atitudes e a recuperação da Terra.

Segundo Freire, “é necessário que o educador e a educadora se familiarizem com a semântica de grupos populares, a partir da perspectiva de seus lugares e do lugar onde se acham seus pés” (FREIRE, 1999, p.107). Somente através da concepção de que eu apenas existo a partir do outro, da visão do outro, o que me permite também compreender o mundo a partir de um olhar diferenciado, partindo tanto do diferente quanto de mim mesmo, sensibilizado que estou pela experiência do contato, é que o grito libertador se consolidará e aprópria luta é que dará forças à construção dos ideários que combatem a miséria cultural e a degração Humana.



Referencial Bibliográfico



FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários a prática educativa. 14ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000. 165p.



GUTIÉRREZ, Franciso; PRADO ROJAS, Cruz. Ecopedagogia e cidadania planetária. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 1999. 128p.



CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS OBRE O MEIO AMBIENE E DESENVOLVIMENTO: 1992. Rio de Janeiro. Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiene e Desenvolvimento: Agenda 21. Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 1996. 591p.