quarta-feira, 19 de agosto de 2009

ATENDIMENTO DO DEFICIENTE NA NOSSA SOCIEDADE, PRINCIPALMENTE NAS ESCOLAS. COMO VOCÊ IMAGINA O FUTURO DESSE ATENDIMENTO?

O tema inclusão escolar tem atualmente levantado discussões e polêmicas entre educadores e pessoas ligadas a escola devido à complexidade que o mesmo configura em sua interpretação.
A inclusão escolar envolve desafios e mudanças na escola no que se refere às posturas e idéias do “aluno ideal” e que aprende todos os conteúdos. Por isso, a escola regular necessita de reflexões para perceber as tentativas fracassadas de inclusão, em que os alunos com deficiência são inseridos na escola, tendo que se adaptar aos padrões exigidos pela própria escola, que ainda valoriza a homogeneidade e a reprodução fiel de conteúdos, ensinados de forma igualitária, desrespeitando o ritmo de aprendizagem de cada um.
Para entendermos a luta pelo reconhecimento dos deficientes como seres humanos capazes de desafiar seus próprios limites na busca de uma utopia, que poderá virar realidade, precisamos conhecer a história desses deficientes ao longo de nossa trajetória.
Desde a antiguidade, várias formas de atenção dispensadas aos deficientes os rotularam como inválidos, caracterizando-os como eternos dependentes de assistência, de caridade, de proteção e de tutela, sendo negado aos mesmos os direitos civis, sociais e pessoais, submetendo-os a diferentes formas de valorização e atenção.
A retrospectiva histórica das pessoas nascidas com deficiência nos mostra as várias tentativas do norteamento de caminhos da inclusão, frustrados pelo apego a culturas, ideais e tradições que buscavam verdades incontestáveis. Na Grécia antiga era atribuída ao deficiente uma razão sobre-humana, sendo os atributos mentais, sensoriais e motores do homem, dádivas ou castigo de Deus ou do Demônio, submetendo-os às práticas de extermínio e exposição. Com o advento do Cristianismo houve uma importante mudança na concepção de deficiência, originando a piedade para com essas pessoas, mas continuavam longe de serem reconhecidos seus direitos. Na Idade Média, século XVIII, na Bélgica, surgem as primeiras instituições de assistência ao deficiente mental. Porém a legislação sobre os cuidados necessários ao deficiente surgiu na Inglaterra, somente no século XIX, onde estava prescrita a incumbência do rei: zelar pelas pessoas portadoras de deficiência. No renascimento houve o fortalecimento da visão antropocêntrica em relação ao entendimento da natureza humana e com isso, as ciências físicas e naturais avançaram os seus estudos e pela primeira vez houve uma preocupação científica e pedagógica para com os deficientes. A partir daí houve outros interesses em se estudar mais profundamente a deficiência mental, concluindo que as causas da deficiência e da normalidade estariam determinadas pela composição biológica do indivíduo ligado a origem de uma lesão ou disfunção do sistema nervoso central. O surgimento da Revolução Industrial veio contribuir com um imaginário social sobre a deficiência em geral, associado-a a noção de produtividade. Assim, a deficiência passou a ser entendida como um fator impeditivo para o trabalho fabril, marca registrada do capitalismo na época, excluindo a pessoa com deficiência do padrão da normalidade pretendida deixando-os à margem dos direitos sociais. O surgimento dos primeiros métodos e teorias relacionadas à educação dos deficientes mentais deve-se a descoberta do menino Vítor, criado no meio de lobos, que ativou a idéia de que o conhecimento é originário da experiência e da influência do meio ambiente. Com o advento do fenômeno da educação e tecnologia, característica do século XX, fortalece o crescimento das ciências humanas, sociais e tecnológicas, surgindo uma grande demanda pelo conhecimento e mesmo diante destes acontecimentos as pessoas deficientes continuaram à margem de todos os seus direitos na sociedade, que passou a exigir habilidades específicas para o trabalho, provocando na escola um grande fluxo de matrículas no ensino regular. Os deficientes também buscaram por essa escolaridade, o que provocou reação imediata do sistema educacional levando à criação de escolas e classes especiais para “depositar” os alunos com deficiência (APAE’s). Com a concepção interacionista da aprendizagem (construção da aprendizagem efetuada na interação do sujeito com o objeto) as práticas educacionais ficaram intocadas, centrando a responsabilidade da aprendizagem no deficiente, que diante das dificuldades acabaria por evadir-se da escola.
Foi exatamente na década de 90 que o movimento ganhou ímpeto, ocorrendo a realização de um importante vínculo do movimento da inclusão com a reforma geral da educação: às escolas cabe a função de atender a todos sem distinção e discriminação que têm como eixos o convívio com as diferenças e a aprendizagem como experiência relacional e participativa.
A Constituição Federal de 1988 garante a todos o direito à educação e ao acesso à escola, sem uso de nenhum adjetivo, porém a LDB 9.394/96 diz respeito à educação de todos numa única escola, admitindo a possibilidade de substituição do ensino regular pelo ensino especial.
Em 1994 a Conferência Mundial sobre as necessidades educativas especiais, realizada na Espanha, que recebeu o nome de Declaração de Salamanca, enfatizou a necessidade de transformação dos sistemas educativos, visando atender às crianças, jovens e adultos contemplando suas características e necessidades.
Através do relato histórico sobre os deficientes na sociedade e na escola, podemos observar, no entanto, que surgiram e surgem políticas que tentam projetar a inclusão, mas de nada adianta impor propostas de valorização do ser humano de forma radical garantidas na Lei. A valorização do ser humano deve ser construída através da consciência de cada ser que pensa, que convive e que acredita na igualdade.
Enquanto essa idéia não se consolida, a inclusão vai se distanciando, de fato, da realidade. Essa é uma tarefa complexa que vem ao longo da nossa história enfrentando muitos desafios.
Em se tratando da inclusão escolar nota-se a necessidade de profundas mudanças no seu projeto como um todo, partindo da proposta pedagógica, à postura teórica e prática dos profissionais. Como toda mudança sugere sair da rotina e mudar o comportamento, talvez seja esse um dos maiores empecilhos à incorporação desse novo modelo educacional. Visto que as nossas políticas educacionais continuam insistindo em “apagar incêndios”, mas não avançam como deveriam e continuam se distanciando das questões que levam à inclusão escolar.
De acordo com Freire (1996, p.43), “a prática docente crítica, implicante do pensar certo, envolve o movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar sobre o fazer”, ou seja, o educador deve estar atento às suas atitudes, desde o discurso à ação, necessitando acreditar que na diversidade cultural é que acontece a mais rica troca de experiências e que ensinar demanda também aprender, criando possibilidade para a sua construção, através da intersubjetividade.
Diante das colocações apresentadas devemos refletir sobre: que sociedade temos agora? O que mudou? Que escola queremos? O que nós, educadores, podemos mudar? O que realmente queremos mudar?
Os sistemas permanecem os mesmos e as relações de poder continuam a existir dentro das escolas, inibindo a criatividade e a autonomia dos professores e dos alunos.
Será que devemos lutar por um novo modelo educacional capaz de nos envolver no processo de construção do conhecimento, sua organização e seu funcionamento, associados à necessidade de desenvolvimento e uma nova visão de mundo? Com base neste novo olhar o aluno passará a ser visto como aquele ser que aprende, que atua na sua realidade, que constrói o conhecimento, não apenas usando o seu lado racional, mas também utilizando todo o seu potencial criativo, o seu talento, a sua intuição, o seu sentimento, as suas sensações e as suas emoções?
Pensar no novo modelo da educação no futuro, remete-me ao questionamento da posição dos educadores do hoje: porque esperar que somente no futuro novas e brilhantes idéias se concretizem? Por que não tomam como ponto de partida essas transformações para a sua formação continuada? O que precisam fazer no hoje, no agora para se ter a educação que seja a ideal para o futuro?
De fato, há um abafamento de iniciativas. Todos ficam na espera que alguém diga o que fazer e para onde ir. O medo do desafio torna-nos temerosos com o nosso futuro, e por isso ficamos inventando um novo modelo de escola para um futuro que ainda não conseguimos imaginar.
Refletindo sobre a educação que deveria ser para todos, não consigo imaginar onde estarão as crianças deficientes, enquanto esperam que nós, “educadores ditos normais” encontremos soluções e situações mais adequadas para que elas façam parte do que formamos todos juntos: a raça humana.

Música Condição Lulu Santos utilizada na campanha “iguais na diferença”
Eu não sou diferente de ninguém Quase todo mundo faz assimEu me viro bem melhor Quando tá mais pra bom que pra ruim Não quero causar impacto Nem tampouco sensação O que eu digo é muito exato E o que cabe na canção Qualquer um que ouve entende Não precisa explicação E se for pensar um pouco Vai me dar toda razão A senhora, a senhorita e também o cidadão Todo mundo que se preza Nega fogo não Eu não sei viver sem ter carinho É a minha condição Eu não sei viver triste e sozinho É a minha condição Eu não sei viver preso ou fugindo.